Continental de Seguros. Marcus Pereira. Chantecler Folclore Fluminense, Ed. MIS, Rio de Janeiro. Grupo Paranga, Ed. Lira Paulistana e Continental.
Literatura de Cordel, Ed. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, Ed. Musica Popular do Sul, Ed. Nordestinos, Ed. Sua Vida e Seus Milagres, Ed. Crazy Discos. Nelo Balducci. Trovadores do Vale, Ed. Sobre esses arranjos de antigamente, Mairipor comenta que como no havia maestro ou arranjador, eram feitos na hora de gravar, quando o artista dava a inteno e os msicos de ouvido procuravam dar forma quela idia musical sugerida: Hoje o maestro faz os arranjos e a base, chega l t tudo pronto, antigamente era na orelhada tudo ali.
O artista dava a inteno pro, pro O artista chegava larari laralara, eu quero o arranjo assim e o cara fazia. Era tudo de orelhada. Alm disso, Mairipor acrescenta que o violeiro centralizava as decises: Repertrio do Tio quem mandava era ele, e acabou. Em , aparece o primeiro disco do artista que traz o recurso tecnolgico do estreo, fato que permitiu ampliar ainda mais alguns recursos de arranjo como as dobras 65 No filme de Oswaldo de Oliveira, a convite do grande produtor, radialista e compositor de msica caipira, o Capito Furtado Ariovaldo Pires, sobrinho do pioneiro Cornlio Pires , Tio Carreiro e Pardinho encenam o papel da prpria dupla, obtendo grande sucesso de bilheteria ao lotar por 32 semanas o cinema Art Palcio, no Largo do Paissandu em So Paulo.
A essa altura, Pardinho j no gravava mais violo, j que, com os recursos da gravao multicanal nas fitas magnticas, no era mais necessrio que se gravassem as vozes e os instrumentos ao mesmo tempo, como era feito principalmente nos tempos do disco de 78rpm. Ao contrrio disso, os msicos de estdio podiam gravar separadamente as bases para depois serem colocadas as vozes Nesta fase, alm de Tio Carreiro, nota-se a presena de outra viola a participar das gravaes e arranjos, tocando no s nas introdues, como tambm ornamentando de maneira livre durante os versos cantados, e que segundo apuramos provavelmente seria do violeiro e violonista Bambico Vale lembrar que, at , os LPs de Tio Carreiro no continham ficha tcnica com nome dos msicos participantes.
Segundo Luiz Faria, por pelo menos dez anos Bambico atuou em gravaes e algumas apresentaes ao lado de Tio gravando inclusive viola caipira nas introdues das canes do artista O Bambico era assim: o Tio demorava um dia, dois pra criar, a criava, chamava o Bambico, fazia uma vez, ele falava faz de novo, ele vazia a segunda vez, pronto, j ia gravar. Ele pegava na hora, era bom de cabea.
Com o advento nos estdios da gravao multicanal com os gravadores de rolo de fita magntica, as bases, incluindo os violes, passaram a ser gravadas por msicos de estdio como Bambico, Itapu, Tupi, Zino Brito e s vezes pelo prprio Tio Carreiro.
Esta participao nos leva hiptese do prprio Bambico, no ambiente das gravaes, ter colaborado em certa medida na criao de alguns arranjos e introdues de viola dos LPs de Tio Carreiro nos quais participou.
A partir de , a cada ano a dupla lanava no mnimo dois LPs, chegando a cinco discos em , alguns como coletneas de sucessos, pagodes, modas de viola e uma de tangos. Quando indagado se um LP desses chegava marca de quinhentas mil cpias, revelou: O Tio vendia muito mais. O Tio com o Teixeirinha 71 vendeu na poca, mais ou menos uns Pra voc ter uma idia, ficava aquelas carretas do fim de semana, aquelas carretas pra levar disco pro interior, dez, quinze esperando fabricar o disco j pra levar.
Tio Carreiro e o Teixeirinha, os dois venderam muito disco, nossa Esses fatos tm correspondncia direta com o perodo de racionalizao e crescimento da indstria fonogrfica nos anos Esse crescimento ocorre no s no 71 O cantor gacho Victor Mateus Teixeira , o Teixeirinha, natural de Rolante RS , ficou muito conhecido pelo sucesso de sua autoria Corao de Luto, gravado em pelo selo Sertanejo, cano que acabou sendo tema em do primeiro de alguns longas-metragens encenados pelo artista.
Dicionrio Cravo Albin de Msica Brasileira, consultado no site www. Esse perodo tambm acompanhado pelo crescimento de programas de rdio e televiso especializados no segmento sertanejo. Este programa duraria at incio dos anos oitenta, sendo transmitido todas as noites em horrio nobre, no qual Tio Carreiro e Pardinho era uma das duplas privilegiadas, dispondo de meia-hora exclusiva todas as sextas-feiras.
Podia passar em qualquer casa do interior principalmente, que tava tocando. Depois veio a novela Isso era at oitenta [] Era sagrado, chegava ali o cara tava no rdio. Promovendo refinamento na linguagem, modernizao nos arranjos e certa limpeza das rusticidades prprias da msica sertaneja, tais aes buscaram, sem sucesso, atingir pblicos de classe mdia e jovens - tendncias internacionais segundo Vicenti , p.
Ritmos como baladas e rocks figuram ao lado de bateria e instrumentos eletrnicos como guitarras, teclados, contrabaixos. As vestimentas imitam a esttica dos cowboys dos filmes de bang-bang talo- americanos e as temticas das msicas passam a ser mais urbanas.
Alinham-se nesta tendncia o cantor-solo Srgio Reis e posteriormente duplas como Milionrio e Jos Rico. Estes artistas representam os primeiros passos da indstria fonogrfica rumo ao seguimento romntico da msica sertaneja de massa que iria se consolidar nas dcadas de oitenta e noventa.
No entanto, no incio dos anos setenta, duplas mais antigas como Tonico e Tinoco, no aceitaram sugestes como a da prpria gravadora Chantecler-Continental de incluir guitarras e outros acompanhamentos modernos em seus discos, na tentativa de recuperar vendagens que a mais de dez anos no eram satisfatrias. J Tio Carreiro absorve alguns traos destas tendncias de mercado. Notamos na discografia deste perodo a presena de algumas baladas, guarnias, balanos e caterets com temticas romnticas e urbanas no repertrio; capas de LPs em que aparece com vestimentas de bang-bang e chapus de cowboy colorido, dentre outros.
No entanto, observamos que suas caractersticas gerais eram predominantemente ligadas ao segmento que, no final da dcad,a passou a ser denominado como sertanejo de raiz em contraposio ao romntico.
Isso porque seus discos eram notadamente marcados pela presena dos gneros e linguagens mais caipiras, pela viola evidenciada principalmente em seus pagodes e pelas caractersticas mais tradicionais predominantes nos arranjos. Isso revela que, de certa forma, Tio Carreiro conseguia conciliar os provveis interesses da gravadora em modernizar o repertrio, mantendo presentes, ao mesmo tempo, os gneros caipiras.
Alm disso, o sucesso quase que permanente na vendagem de seus discos desde a dcada de sessenta provavelmente lhe garantia uma posio mais confortvel frente a eventuais imposies da gravadora. Essa condio explicaria, portanto, a postura e poder de 46 deciso que o violeiro tinha frente ao repertrio e a instrumentao, segundo observamos acima nos relatos de Mairipor e Luiz Faria.
Em , devido a desentendimentos, a dupla Tio Carreiro e Pardinho se separa, retornando no ano de Com Paraso, Tio lana cerca de quatro LPs alm das coletneas de gravaes anteriores ao lado de Pardinho.
A partir do primeiro LP da nova dupla, intitulado Viola Divina , podemos notar uma maior organizao e profissionalizao na produo dos discos, que passaram a incluir ficha tcnica mais minuciosa detalhando itens como: capa, direo de arte, fotos, administrao de repertrio, alm de direo artstica, tcnico de som, mixagem estdio, etc. Neste lbum pela primeira vez utilizado racionalmente o verso da capa para insero de fotos dos artistas.
Atualmente Paraso forma dupla com Mococa. Assim, o autor acrescenta que era quase que humilhante para duplas mais populares e bem sucedidas freqentar tal mercado de negcios CALDAS, , p. Pois, o mercado de msica sertaneja amplo, prova nas dezenas de lanamentos mensais feito por 12 gravadoras que disputam o setor, algumas trabalhando apenas com este tipo de produo.
Ao mesmo tempo, observamos nos discos deste perodo algumas tentativas mais diretas em direo adoo do romantismo nas temticas. No entanto, a presena de gneros ligados s matrizes caipiras ainda se mantm no repertrio.
Nesta poca, gradativamente a msica sertaneja comea a adentrar com maior penetrao na mdia televisiva, chegando aos poucos s rdios FM, alm de sofisticar seu circuito de exibio que, dos circos e espaos perifricos, passa aos rodeios itinerantes, s feiras e exposies agropecurias, cada vez mais com ares de superproduo 80 VICENTI, , p. Em , j novamente ao lado de Pardinho, Tio grava o LP No Som da Viola que traz a presena marcante do arranjador Jos Barbosa dos Santos Marinho empregando largamente arranjos para violinos, utilizao de uma espcie de teclado chamado de piano Elka, guitarra havaiana, baixo eltrico, cavaquinho, violes e viola, disco no qual predominam os temas mais romnticos.
Desta forma, busca modernizar a esttica dos seus discos na tentativa de acompanhar o crescente sucesso das novas duplas sertanejas e romnticas como Chitozinho e Xoror, Zez di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, entre outras. At nos gneros caipiras mais tradicionais como o cururu, gradativamente os arranjadores e msicos dos seus discos tentam aplicar instrumentaes como violinos, teclados, saxofones, guitarras, coro e bateria, resultando em arranjos estilizados e rebuscados.
E a viola caipira, quando aparece, no necessariamente tocada pelo artista. O ltimo disco do violeiro, aps mais uma separao com Pardinho, foi O Fogo e a Brasa gravado em ao lado de Praiano.
Esse disco representa, sem sombra de dvida, o auge desta estilizao na carreira do violeiro, momento em que j est consolidado o segmento sertanejo pop romntico nos padres da indstria fonogrfica internacional.
Em 15 de agosto de , Tio Carreiro veio a falecer em So Paulo devido a complicaes provenientes de diabetes. Pardinho viria a falecer apenas em , na cidade de Sorocaba. Esse perodo iniciado nos anos noventa, segundo Alem , corresponde ao processo de consolidao de um novo modelo da ruralidade brasileira, fenmeno que abrange denominaes ambguas como country termo que evoca a modernidade dos padres norte-americanos , e caipira e sertanejo representantes das tradies da antiga sociedade agrria.
O autor afirma que a expanso dos rodeios, shows de duplas sertanejas, exposies agropecurias, rituais cvicos e outros eventos ruralistas aliados ao apoio das prefeituras locais, da mdia televisiva, radiofnica, impressa e eletrnica, da indstria fonogrfica, grifes do vesturio country, empresas publicitrias, 81 Em Dias , p.
Desde , quando o pas chegou a ocupar a quinta posio no mercado mundial, os nmeros passam a ser decrescentes, at , quando se recupera, mesmo de maneira inconstante. Dessa forma, a ruralidade brasileira atual no emerge nem se situa mais unicamente no campo. A categoria rural tomou uma dimenso geogrfica, social e simblica imprecisa, at se tornar quase indefinida, graas ao carter diludo e abrangente que tantos rituais, produtos e smbolos lhe conferem ALEM, , p.
So remasterizaes de eleps que, por sua vez, foram em boa parte ou regravaes ou cpias de 78 rpm de sucesso. E no porque ele morreu e d sensao de perda, mas porque o povo est valorizando mais a moda caipira.
Desta constatao conclui-se: a Moda Caipira de razes, com suas palavras estropiadas e to serto, no sai de moda, no se exaure facilmente com o tempo, constituindo-se talvez, em seu conjunto, no maior fenmeno da mdia em discos, e com mais longevidade, na fortuna chamada Msica Popular Brasileira.
ALEM, , p. Desta forma, no contexto da msica sertaneja romntica massificada ps anos noventa, a predominncia de elementos e matrizes caipiras em sua discografia fez com que Tio Carreiro definitivamente fosse reconhecido no mercado fonogrfico como um artista do segmento sertanejo de raiz, mesmo que seus ltimos discos inclussem algumas inovaes estilsticas.
Seus LPs passaram, portanto, a ser identificados como reservas de matrizes caipiras, mesmo que j transformadas, para as novas geraes de violeiros e msicos que at os dias atuais redescobrem suas gravaes. Ao mesmo tempo, interessante notar que duplas e cantores do segmento sertanejo romntico passaram a registrar em seus CDs pelo menos uma msica do chamado repertrio de raiz, muitas vezes com arranjos tidos como modernos.
Provavelmente isso representa uma estratgia de legitimao do disco e visa garantir identidade da produo com um pblico mais amplo ZAN, , p. Como exemplo bem claro desta tendncia, temos a srie de CDs do cantor sertanejo romntico Daniel intitulados Meu Reino Encantado, Meu Reino Encantado II e Meu Reino Encantado III, lanados respectivamente em , e tambm pela gravadora Warner, e que so coletneas de clssicos do repertrio de raiz registrados pelo cantor, incluindo a participao de intrpretes de duplas tradicionais como Irms Galvo, Tinoco e o prprio Pardinho.
O segundo CD desta srie uma homenagem justamente a Tio Carreiro, contendo apenas composies suas ou msicas que foram interpretadas pelo violeiro. Atualmente, existem algumas aes em direo preservao e divulgao da histria e obra de Tio Carreiro, como o recm inaugurado Memorial Tio Carreiro, localizado na cidade de So Paulo e coordenado pela filha do artista, Alex Marli.
Os dois LPs instrumentais de e Como se sabe, ao longo de toda sua carreira, Tio Carreiro alm de intrprete e compositor de grande repercusso, revelou ser dono de uma tcnica apurada como instrumentista de viola.
Sua habilidade e musicalidade demonstrada na grande desenvoltura dos solos e introdues de suas canes, levaram o violeiro a ocupar um lugar de grande destaque no meio musical e no mercado fonogrfico Como j dito, s em que Tio viria a registrar um trabalho inteiramente instrumental em isso que o povo quer Chantecler-Continental tendo o subttulo Tio Carreiro em solos de viola caipira, e depois em com Tio Carreiro em solo de viola caipira Continental , lbum que trazia na capa a chancela O Criador e Rei do Pagode: Figura 4: LP isso que o povo quer , Chantecler-Continental 83 Segundo o jornalista Assis ngelo, Tio dera viola e moda de viola a mesma importncia e status que Waldir Azevedo deu ao cavaquinho e ao choro.
Texto do encarte da coleo Som da Terra, lanada em pela Warner. A explicao provvel do perodo de espera para realizar um registro instrumental do artista deve-se, como j dito, ao predomnio do interesse, principalmente das gravadoras, na comercializao de msica cantada por meio dos discos do segmento sertanejo desde seu surgimento no final dos anos vinte. No entanto, observamos que principalmente em meados da dcada de setenta ocorre um crescimento e abertura no mercado fonogrfico para a msica instrumental brasileira.
Esse crescimento verificado a partir do ressurgimento do choro com seus festivais televisivos, do surgimento de expoentes da msica instrumental como Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal, da proliferao de selos independentes que principalmente a partir de passam a registrar msica instrumental e da realizao de importantes festivais de jazz nacionais, dentre outros MULLER, , p.
Ao mesmo tempo, a indstria fonogrfica brasileira em geral encontrava-se em especial momento de crescimento, fato que, aliado a uma possvel demanda mesmo que pequena no ramo sertanejo instrumental, pode ter proporcionado brechas para o registro em discos de msicas instrumentais de viola. Desta forma, Tio Carreiro seria uma boa opo para sua gravadora Chantecler-Continental, visto que possua tanto uma carreira de sucesso consolidada 84 , o que lhe dava suporte e certa mobilidade 84 Waldenyr Caldas observa que em , junto com Lo Canhoto e Robertinho e Tonico e Tinoco, Tio Carreiro e Pardinho eram as duplas medalhes da msica sertaneja, tendo escritrio e empresrios prprios, ao contrrio da 56 perante gravadora e ao mercado, quanto toda a bagagem musical e tcnica necessrias para realizar tal projeto instrumental de maneira competente, como acabou ocorrendo nos anos de e Segundo depoimentos de Luiz Faria e Mairipor, a idia de gravar um LP instrumental em era tanto uma vontade do violeiro como um pedido da gravadora e dos amigos e parceiros do segmento sertanejo, e que Tio mais uma vez tinha total autonomia dentro da gravadora para realizar um projeto desta natureza Ou seja, tal segmento surge interligado forma da cano tanto nos primeiros indcios identificados nas introdues e solos de viola das canes das duplas, quanto nos seus primeiros registros em disco instrumental j que o repertrio destes envolvia verses instrumentais de canes sucesso e no apenas composies instrumentais.
Entre esses especialistas Renato Andrade e o fabuloso Geraldo Ribeiro, autor de um disco nico no gnero, intitulado Bach na Viola Brasileira. Paradoxalmente, porm, nenhum tocador popular se havia aventurado at hoje, a gravar um disco de solos de viola caipira. Essa falha acaba de ser corrigida por Tio Carreiro Bastaria realmente a exibio de Tio Carreiro nas cinco selees de pagodes includas em seu disco Neste sentido, recomendaramos aos msicos e compositores interessados em peculiaridades musicais brasileiras Por todos esses motivos, o disco com os solos de viola caipira de Tio Carreiro, pela qualidade do instrumentista e pelo carter de informao de que se reveste, deve ser ouvido com sabor de descoberta, creditando ao artista de msica sertaneja Jos Dias Nunes merecidssimos aplausos por sua idia e sua contribuio.
TINHORO, Ao usar termos como surpresa e falha que acabava de ser corrigida, Tinhoro revela a demanda, ao menos por parte dos msicos, intelectuais e pesquisadores por discos desse tipo. Ao recomend-lo ao pblico, ainda credita obra um carter informativo, de qualidade, de descoberta de peculiaridades musicais brasileiras, que poderamos entender como uma reserva de contedo de matrizes, linguagens da viola e de seu universo. Nos dois LPs instrumentais de Tio Carreiro, alm de cururus, toadas, guarnias, polcas, corridos, sambas caipiras, balanos e outros gneros que permearam toda a carreira do violeiro, tambm aparecem em significativa quantidade pot-pourris de pagodes 7 das 28 faixas totalizadas nos dois discos com a denominao seleo de pagodes, nas quais mistura as melodias, solos e introdues de vrios pagodes gravados anteriormente pelo violeiro.
Nestas selees, Tio Carreiro evidencia sua habilidade e destreza nos solos e acompanhamentos, imprimindo a tcnica e musicalidade marcantes de seu estilo como instrumentista de viola. Alm da viola solista do artista, a instrumentao dos discos traz violes: geralmente um fazendo as linhas de baixo em pizzicato e o s 58 outro s a cuidar da conduo harmnica e rtmica. Traz um ou dois instrumentos de percusso leve: ovinho, caxixi, bongo, reco-reco de madeira, bloco sonoro block , coquinhos, etc.
No segundo LP, gravado j em oito canais e no limitado a quatro como no primeiro, aparece eventualmente baixo eltrico 86 , uma dobra de viola 87 , rgo e at uma guitarra eltrica com som limpo acompanhando o samba Malandro da Barra Funda Raul Torres e Carreirinho. Estes instrumentos na mixagem estreo dos LPs ficam bem distribudos na panormica direita-centro-esquerda dos auto-falantes Ambos os LPs no trazem ficha tcnica detalhada.
No primeiro LP, ao contrrio do segundo, aparecem as indicaes dos gneros das msicas como observamos na Figura 6. Sobre os msicos participantes nos LPs, pelo que apuramos, os nomes provveis estariam presentes na lista abaixo 89 : 86 No primeiro LP, no ocorre a presena de baixo eltrico, disco no qual as linhas de baixo so feitas normalmente por um violo em pizzicato tocando provavelmente de dedeira, o qual fica mixado em um dos alto-falantes esquerdo ou direito em quase todas as faixas.
Essa separao nos permite a audio ntida deste instrumento, o que, por sua vez, possibilita sua identificao mais precisa. No entanto, no segundo LP, o instrumento que faz as linhas de baixo fica normalmente no centro e no em um dos alto-falantes, o que dificulta afirmarmos definitivamente se um baixo eltrico como aparenta ser ou um violo tocando em pizzicato, j que tanto os timbres de ambos se assemelham no contexto da gravao, quanto a tessitura das linhas tocadas na maioria das vezes pode ser feita por um violo, as vezes requerendo apenas sua afinao um ou dois semitons abaixo do normal recurso que inclusive ocorre muitas vezes no primeiro LP.
J no segundo LP, gravado em oito canais, em algumas msicas como Cavalo Zaino Raul Torres aparece baixo eltrico, duas percusses, quatro violes dois violes acompanhando e outros dois fazendo melodias e costuras em teras alm do rgo, que alterna a melodia do tema com a viola do violeiro. No entanto, para a anlise do estilo do violeiro, o primeiro LP no se torna limitado, j que a parte mais expressiva da carreira do artista foi gravada antes deste LP, portanto com igual ou menor recurso tecnolgico que este LP dispunha.
Alm disso, as apresentaes ao vivo eram realizadas normalmente apenas pela dupla, ou seja, apenas viola e violo. Desta forma, podemos considerar que os LPs so amostras suficientemente representativas para as anlises pretendidas. Percusso: Escurinho Joo Batista Lemos. Em ambos os discos, o violeiro explora a viola caipira desde a maneira mais tradicional, quando utiliza simples melodias nas antigas escalas duetadas 91 , at em melodias rtmica e melodicamente mais complexas, muitas vezes de execuo tecnicamente difcil.
Dono de uma pegada pesada no instrumento como veremos adiante, utiliza-se, dentre outras tcnicas, da alternncia entre o polegar e o indicador da mo direita para solar melodias, arpejos, ornamentos, ligados, pizzicatos, staccatos, notas percussivas, expressivos vibratos, notas pedais, notas produzidas em cordas soltas, entre outros que abordaremos no Captulo 6.
Afinaes utilizadas por Tio Carreiro Antes de entrarmos de fato na parte referente identificao das matrizes e elementos musicais encontrados a partir das anlises j realizadas, inicialmente so necessrias algumas consideraes sobre as afinaes utilizadas por Tio Carreiro nos LPs instrumentais para que posteriormente possamos utilizar os termos e definies que agora descreveremos. Tanto nas gravaes analisadas como em toda obra do artista, Tio Carreiro confirmados por Orlando Ribeiro, arranjador e msico acordeom, rgo, etc que tambm participou de alguns LPs de Tio Carreiro.
Esta afinao aparece nas gravaes em algumas tonalidades diferentes. Figura 7: Afinao Cebolo em R Maior Considerando que a viola, assim como o violo, um instrumento transpositor de oitava soa oitava abaixo do que se escreve , teramos as notas das cordas do cebolo em R maior do quinto ao primeiro par : Figura 8: Afinao Cebolo em R Maior Na afinao cebolo em Mi bemol maior, as cordas so afinadas meio tom acima em relao afinao anterior Cebolo em R Maior , mantendo-se a relao intervalar entre elas nesta transposio, da seguinte forma: 61 Figura 9: Afinao Cebolo em Mi bemol maior.
Da mesma forma, para afinao cebolo em Mi maior teramos: Figura Cebolo em Mi maior. Ocorre o predomnio de afinaes mais prximas do Cebolo em Mi bemol maior, mas que na verdade so intermedirias entre Mi bemol maior e Mi maior, tendendo mais para Mi bemol maior. Este fato nos leva a concluir que no havia por parte do violeiro e dos msicos acompanhantes a prtica de afinar os instrumentos a partir de um referencial de afinao fixo e conhecido, como, por exemplo, um diapaso em L Hz.
O que existia era um procedimento de afinao de ouvido entre os msicos com seus instrumentos, de forma que todos tocassem afinados entre si, e no necessariamente em relao ao padro de um diapaso. Em algumas msicas como em Ferreirinha na Viola Francisco Nepomuceno de Oliveira , Tio provavelmente utiliza-se do recurso do capotasto tambm conhecido por capo, pestana ou braadeira , espcie de pestana 92 artificial em forma de alicate de metal revestido com borracha, colocada no brao da viola para modificar a tonalidade das cordas soltas, adequando o instrumento a uma tonalidade favorvel ao canto sem que se perca o recurso facilitador e idiomtico das cordas soltas.
Nesta msica, a afinao resultante a de F maior. Esse uso do capotasto provvel, pois na prtica seria pouco indicado esticar as cordas at esta tonalidade, j que provavelmente as cordas ficariam muito tensas, podendo arrebentar ou provocar o progressivo descolamento do cavalete no tampo do instrumento.
No entanto, no podemos garantir que o violeiro no tenha utilizado esta afinao em F maior. O que podemos descartar a hiptese dele no ter utilizado o capotasto nesta msica e de, ento, ter tocado com uma viola afinada, por exemplo, em Cebolo em Mi bemol, pois seria tecnicamente muito difcil de executar passagens como a do segundo para o terceiro compasso, mantendo-se a nota F soando - - - como se percebe na gravao: 92 Tcnica de mo esquerda que consiste em pressionar todas ou parte das cordas com apenas um dedo, geralmente o dedo 1 indicador , em um mesmo traste.
Essa nota F s pode se manter soando nesta passagem se for produzida em uma corda solta; isso determina portanto que a corda solta seja um F pertencente afinao Cebolo em F maior, obtido apenas com o recurso do capotasto ou com a viola afinada em F maior. Esse fato confirmado pela necessidade do violeiro trocar dos pares e para os pares e na passagem do segundo para o terceiro compasso. Essa troca percebida pela audio da nota D oitavada no terceiro compasso produzida, portanto, necessariamente fora dos pares e que no possuem cordas oitavadas, e provavelmente no par pela proximidade e lgica mecnica.
Se no houvesse o capotasto, o violeiro poderia seguir naturalmente o movimento meldico descendente do compasso 2 at o 3 mantendo-se nos pares e. As matrizes caipiras e os gneros utilizados por Tio Carreiro nos LPs instrumentais.
Neste captulo vamos ilustrar e contextualizar as matrizes musicais identificadas nas anlises musicais dos dois LPs instrumentais de Tio Carreiro, a partir do referencial das fontes biogrficas e discogrficas disponveis e da pesquisa de campo com violeiros e pesquisadores. Desta forma, levantamos os elementos necessrios para compreender como o artista as utilizou e como essas matrizes participam do seu estilo de tocar. Os critrios usados para identificar tais matrizes foram os padres e batidas de viola ou violo sinnimos de levadas ou toques 93 e caractersticas dos gneros que reunimos a partir da pesquisa nos livros, estudos, peridicos e mtodos de msica caipira e de viola como Corra e Vilela Pinto , Deghi , Brs da Viola , revista Viola Caipira, entre outros.
Provavelmente, essas foram prticas adotadas pela indstria fonogrfica na tentativa de atrair o pblico consumidor de discos, na medida em que este pudesse se identificar com os gneros difundidos no contexto de cada poca. Na verdade, estas indicaes nem sempre so informaes musicalmente precisas, j que, do ponto de vista tcnico, ocorrem algumas vezes terminologias diferentes como balano e balanceado correspondendo a uma mesma idia e concepo rtmica, e at mesmo terminologias diferentes como arrasta-p e corrido para uma mesma gravao lanada em pocas diferentes No entanto, no desprezamos estes dados que nos serviram como um ponto de partida para as anlises e identificao dos gneros envolvidos bem como para compreender de que forma foram utilizados pelo artista e pela indstria fonogrfica.
Mesmo porque, segundo depoimentos de violeiros, pesquisadores, profissionais do segmento sertanejo como Mairipor e Luiz Faria, eram os prprios artistas, msicos e compositores, quem normalmente dava a indicao dos gneros a ser grafados nas capas e rtulos. Observando a msica sertaneja e o comportamento da viola na execuo dos ritmos e gneros, percebemos certos padres mais comumente encontrados do que outros.
O predomnio de certos padres e formas de execuo em relao a outras variaes, provavelmente tenha relao com os registros em disco e a reproduo destas formas atravs de seus meios de divulgao. Assim, na medida em que padres rtmicos, como por exemplo a batida mais comum do cururu na viola, foram sendo gravados em discos e reproduzidos nas rdios, aos poucos foram se transformando em referncias para que outros violeiros tomassem estas batidas como modelo para acompanhamento de cururus.
Sobre esses padres Roberto Corra acrescenta: Os gneros musicais encontrados na msica caipira, como o Cateret, Cururu, Batuque, Toada, entre outros, so em geral, oriundos de danas populares e caracterizam-se por determinado padro rtmico. Apesar de haver certa padronizao na execuo dos gneros, algumas duplas desenvolveram a prpria maneira de fazer a batida do ritmo. Alguns violeiros chegaram mesmo a criar novos ritmos, o que, em alguns casos, acabou por originar um novo gnero, como o caso do Pagode-de-Viola CORRA, , p.
Portanto, ao mesmo tempo em que ocorrem os padres e os modelos fixados pelas gravaes, existem certas maneiras prprias e estilos particulares de cada violeiro executar as batidas dos ritmos, caractersticas importantes para a identificao de sua personalidade musical.
Sobre a identificao dos gneros e matrizes musicais caipiras, outra dificuldade que encontramos que temos diversas vezes que trabalhar com informaes e dados particularizados, frutos das experincias pessoais dos violeiros, msicos e 68 pesquisadores consultados para nosso trabalho. Muitas vezes os dados so imprecisos e por vezes contraditrios no que se refere caracterizao dos ritmos: uma mesma batida na viola pode receber diferentes denominaes dependendo do violeiro consultado e da localizao geogrfica da pesquisa Uma mesma denominao tambm pode ser atribuda a batidas distintas.
E no poderia ser diferente quando buscamos identificar ritmos, gneros e matrizes musicais, principalmente no mbito da diversidade da cultura caipira e brasileira, j que o assunto emerge em meio a um emaranhado de elementos, linguagens, vertentes e variaes. Alm disso, os dados e estudos sobre o assunto so escassos, principalmente no que se refere a abordagens e anlises musicais.
Desta forma, entendemos que os conceitos dos gneros e ritmos que sero apresentados neste trabalho no so definies rgidas e definitivas, mas sim indicaes, orientaes e estudos provisrios no intuito de identificar e caracterizar os gneros e matrizes musicais utilizadas por Tio Carreiro nos seus dois LPs instrumentais.
Quando necessrio, ilustraremos outras variaes de batidas alm das encontradas nesses dois discos. Alm disso, importante observar que Tio Carreiro realizou predominantemente solos de viola e no tanto acompanhamentos nos LPs instrumentais a serem analisados.
Assim, boa parte da caracterizao dos ritmos e gneros passar tambm pela identificao dos padres dos instrumentos acompanhantes, principalmente os violes. Isso, no entanto, no prejudica nossos objetivos, j que a maior parte das batidas e padres do violo que observaremos a seguir eram tambm executados, se no da mesma forma, de maneira muito semelhante na viola.
Alm disso, o acompanhamento dos violes, por exemplo, ocorre tanto nestes LPs como em quase todas as outras gravaes da discografia do artista, sendo 96 Em conversas com violeiros e em comparao com livros como Corra , identificamos nomes diferentes para uma mesma batida na viola, ex: balanceado equivalendo a batido e a pagode. Como complemento caracterizao e identificao destas matrizes e gneros, no livro A arte de pontear a viola de autoria do violeiro e pesquisador Roberto Correa, existe uma extensa lista de gravaes fonogrficas de duplas sertanejas classificadas pelos gneros e ritmos segundo anlise do autor.
Essas listas e classificaes tambm nos serviram de referncia, mesmo que nessas catalogaes do autor no conste nenhuma informao sobre os gneros alm de suas clulas rtmicas e a indicao de seus respectivos exemplos fonogrficos. Alm disso, algumas das informaes e anlises sobre os gneros contidas neste captulo, no que diz respeito a detalhes de execuo, tcnicas, batidas e toques de viola, foram identificados com auxlio da observao de imagens e vdeos de apresentaes e programas televisivos dos quais o artista participou tocando ao vivo Como Tio Carreiro era destro, adotaremos neste trabalho a conveno de que a mo direita, tanto para a viola como para o violo, aquela que tange as cordas e a esquerda aquela que pressiona as cordas contra o brao da viola.
Alm disso, alm da notao ocidental da partitura, faremos uso, quando necessrio, do sistema da tablatura musical para ilustrarmos de maneira mais precisa as posies e digitaes no brao da viola utilizadas pelo violeiro, seguindo a conveno internacional de que o primeiro par de cordas se localiza na primeira linha de cima para baixo da tablatura, o segundo par a segunda linha, e assim sucessivamente.
Da mesma forma, a orientao das batidas da mo 97 Vale lembrar que a situao onde a viola sola e ao menos um violo acompanha ao contrrio de ambos acompanhando o canto uma circunstncia tambm representativa para a anlise e caracterizao do estilo do violeiro e dos gneros praticados. Isso porque esta situao ocorria tanto em diversas outras gravaes, nos momentos de introduo ou solo da viola, quanto em apresentaes ao vivo, quando geralmente apenas a prpria dupla se acompanhava com esses dois instrumentos.
Arriscaria dizer que, se precisssemos escolher uma instrumentao reduzida que pudesse caracterizar e reproduzir a maioria dos gneros da msica caipira e sertaneja, a mais adequada seria o casal viola e o violo.
A relao encontra-se indicada no final do trabalho no item Referncias Audiovisuais. Toada No primeiro LP instrumental de Tio Carreiro, temos como amostra de toada a primeira parte da msica Ferreirinha na Viola Francisco Nepomuceno de Oliveira e que vem indicada como toada apesar de na segunda parte se transformar em um arrasta-p.
Nesta gravao, o acompanhamento feito apenas por dois violes responsveis pela conduo harmnica e rtmica, fazendo a viola apenas o solo da melodia. Abaixo, transcrevemos o principal padro rtmico assumido pelos violes encontrado nos compassos 5, 6 e 7: 99 valido lembrar essas convenes e orientaes, j que alguns mtodos musicais, inclusive de viola caipira, s vezes utilizam o sistema da tablatura invertido em relao ao padro internacional, o que pode gerar certa confuso na leitura musical.
O violo 1 aparece tanto arpejando os acordes em colcheias, quanto assumindo a funo de destacar pequenas linhas de baixo, como nos compassos 6 e 7 destacados acima. Ele s vezes tambm ornamenta, como no compasso 5, em que executa uma frase meldica descendente na regio grave, semelhante s feitas pelos violes de sete cordas nos choros e sambas, procedimento conhecido como baixaria.
Ainda podemos encontrar outro exemplo de um trecho de toada na primeira parte do pagode Em tempo de avano Tio Carreiro e Lourival dos Santos includo na faixa Seleo de Pagodes n3 do primeiro LP. Aps uma introduo ad libitum, a viola e o acompanhamento feito por trs violes iniciam um trecho em ritmo de toada cujos padres so exibidos abaixo: 72 Figura Em tempo de avano Tio Carreiro e Lourival dos Santos O violo 1 faz uma conduo harmnica e rtmica utilizando-se livremente de alguns padres de batidas como os exibidos acima, alm de realizar certa marcao constante nos baixos destacada na partitura que se assemelham ao violo 1 do exemplo anterior.
O violo 2 toca os arpejos dos acordes com padro rtmico constante, trabalhando na regio mdia do instrumento. O violo 3 tambm toca os acordes mas principalmente faz a conduo de baixos destacada na partitura alm de ornamentar com frases no grave, como nos compassos 13 e 15, equivalente s baixarias do violo 1 do exemplo anterior.
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